Soft skills precisam ser sustentadas por cultura
- Silvana Souza Silva
- 9 de abr.
- 3 min de leitura

Muito se fala sobre a importância das soft skills no mercado de trabalho. No LinkedIn, nos eventos corporativos, em treinamentos e reuniões de liderança, o discurso é claro: queremos profissionais com inteligência emocional, adaptabilidade, resiliência. Mas, na prática, quem realmente valoriza essas competências quando elas aparecem?
No comércio exterior — um setor que lida diariamente com pressões, mudanças mundiais, contextos multiculturais e desafios logísticos — as soft skills são fundamentais. No entanto, ainda existe um abismo entre o que se espera dos profissionais e o que as empresas e lideranças estão dispostas a reconhecer, apoiar ou desenvolver.
O paradoxo das soft skills
De um lado, temos profissionais se esforçando para desenvolver suas habilidades interpessoais, emocionais e comportamentais. Muitos deles buscam autoconhecimento, investem tempo e energia em cursos, terapia, coaching, feedbacks e vivências que exigem coragem e vulnerabilidade.
Do outro lado, ainda encontramos lideranças que confundem inteligência emocional com “falta de pulso”, que preferem colaboradores que "entreguem" a qualquer custo — mesmo que estressados, desmotivados ou à beira do burnout. Fala-se muito em escuta ativa, mas quantas reuniões realmente praticam isso? Valoriza-se a adaptabilidade, mas, quando alguém propõe uma nova abordagem, ainda é comum ouvir: “sempre fizemos assim”.
Desenvolver soft skills é um trabalho duro (e muitas vezes solitário)
É importante entender que desenvolver soft skills vai muito além de aplicar uma técnica. Trata-se de lidar com frustrações, abrir espaço para o erro, ter coragem para dizer “não sei” e empatia para lidar com diferentes perspectivas. É difícil — e ainda mais desafiador quando se está inserido em ambientes que não reconhecem esses esforços ou, pior, que os penalizam. Como ser vulnerável dentro de uma cultura corporativa que, além de não valorizar, rechaça esse tipo de postura?
Muitos profissionais, especialmente no comércio exterior, têm desenvolvido essas competências por necessidade. Eles aprendem a ser resilientes após lidar com crises cambiais, guerras, mudanças regulatórias repentinas. Tornam-se excelentes comunicadores interculturais “na marra”, após anos lidando com fusos horários, sotaques, ruídos de comunicação e diferentes normas de etiqueta comercial. E mesmo assim, frequentemente, essas habilidades são tratadas como algo “natural” ou “esperado”, e não como diferenciais construídos com muito esforço.
Ainda assim, elas fazem toda a diferença…
Apesar da falta de valorização em muitos ambientes, as soft skills continuam sendo essenciais. Em 2025, no comércio exterior, elas não são apenas desejáveis — são indispensáveis. Mas é preciso parar de tratar esse tema com superficialidade.
Em vez de listarmos novamente as habilidades mais valorizadas, o que precisamos é começar a:
● Reconhecer que nem todos têm acesso às mesmas oportunidades de desenvolver essas habilidades;
● Criar culturas organizacionais que não apenas falem sobre soft skills, mas que realmente as pratiquem e incentivem;
● Treinar lideranças para identificar e valorizar essas competências nos seus times, com consistência e coerência.
Soft skills precisam ser sustentadas por cultura
A verdadeira mudança só acontece quando a valorização das soft skills deixa de ser uma frase de efeito no mural da empresa e passa a ser critério em decisões reais: promoções, contratações, escuta ativa nas reuniões, feedbacks estruturados e abertura para o humano que existe em cada profissional.
Como consultora em desenvolvimento humano, vejo todos os dias profissionais tentando crescer emocionalmente — mesmo quando isso não rende bônus, nem destaque. Eles sabem que, para sobreviver (e não apenas performar), precisam dessas habilidades. Mas está na hora de o mercado parar de romantizar as soft skills e começar a criar ambientes que realmente as acolham.
Se 2025 é o ano da inteligência emocional, da adaptabilidade e da empatia no comex — que seja também o ano da coragem organizacional para sustentar tudo isso.
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