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O Cansaço Invisível: Narcisismo, Performance e os Novos Sofrimentos Psíquicos

  • Foto do escritor: Silvana Souza Silva
    Silvana Souza Silva
  • há 4 dias
  • 2 min de leitura
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Na cultura atual, somos estimulados o tempo todo a produzir, conquistar, melhorar e mostrar resultados. Vivemos em uma lógica que transforma cada pessoa em um projeto de alta performance, e isso tem impactos profundos na saúde mental, no narcisismo e no modo como o sujeito vive suas emoções.

Esse cenário gera um tipo de sofrimento psíquico silencioso, crescente e, muitas vezes, invisível — mas que aparece diariamente nas clínicas, nas empresas e na vida cotidiana.

O narcisismo contemporâneo e a busca pela perfeição

A subjetividade atual é marcada por um narcisismo que não é de grandeza, mas de fragilidade. O sujeito contemporâneo:

  • precisa parecer forte, produtivo e bem-sucedido,

  • teme mostrar vulnerabilidade,

  • vive sob comparação constante,

  • sente-se sempre aquém do ideal.

É um narcisismo alimentado por redes sociais, pela lógica da imagem e pela exigência de autopromoção contínua.Quanto mais o sujeito se mostra, menos ele sente que se sustenta.

O “sujeito de desempenho” e a autoexploração emocional

Inspirado no pensamento de Byung-Chul Han, o sujeito atual não é mais controlado por regras externas — mas por mandatos internos de produtividade. Surge o sujeito de desempenho, que repete mentalmente:

“Você pode. Você deve. Basta tentar mais.”

Se falha, sente culpa.Se descansa, sente-se improdutivo.Se não alcança o ideal, sente-se inadequado.

Essa autoexploração contínua — psicológica e emocional — tem produzido sintomas como:

  • ansiedade generalizada,

  • fadiga mental,

  • depressão silenciosa,

  • sensação de vazio,

  • irritabilidade,

  • desconexão afetiva,

  • esgotamento emocional.

Hoje, não é apenas o corpo que cansa — é a identidade inteira que se desgasta.

Novos sofrimentos psíquicos: quando o excesso adoece

A clínica contemporânea revela que muitos sujeitos não sofrem mais pela falta, mas pelo excesso:

  • excesso de estímulos,

  • excesso de tarefas,

  • excesso de comparação,

  • excesso de cobrança.

As novas formas de sofrimento incluem:

  • crises de ansiedade,

  • pânico,

  • autossabotagem,

  • compulsões digitais,

  • dificuldades de concentração,

  • autolesão emocional,

  • sensação constante de inadequação.

Não são "frescuras".São respostas psíquicas a um mundo que exige o impossível.

O papel da psicanálise em uma cultura de hipervelocidade

A psicanálise oferece algo raro e profundamente necessário: um espaço onde o sujeito pode existir sem performar.

Na análise, a pessoa não precisa:

  • ser eficiente,

  • ser produtiva,

  • ser perfeita,

  • saber de tudo.

Ela pode simplesmente ser, sem a pressão de atender a expectativas externas.

A clínica psicanalítica se torna, assim, um espaço de resistência à lógica neoliberal da performance.É ali que o sujeito pode:

  • desacelerar,

  • ouvir seus próprios limites,

  • elaborar seu sofrimento,

  • reconectar-se com seu desejo,

  • reencontrar um modo de existir menos adoecido.

Em um mundo que exige que sejamos “empresa de nós mesmos”, a psicanálise oferece um retorno ao humano, ao singular, ao possível.

Silvana Souza SIlva - Psicanalista

 
 
 

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