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O que é o objeto psicanalítico e qual o papel do psicanalista?

  • Foto do escritor: Silvana Souza Silva
    Silvana Souza Silva
  • 3 de set.
  • 2 min de leitura
mosaico de emoções que criam uma ordem
mosaico de emoções que criam uma ordem

O que é o objeto psicanalítico e qual o papel do psicanalista? A obra de Wilfred Bion nos convida a refletir sobre essas questões de forma profunda e inovadora. Diferentes correntes da psicanálise abordam o objeto de maneiras variadas: algumas se concentram na psicopatologia, no caso clínico ou na transferência; outras exploram a contratransferência, as identificações projetivas e a experiência emocional do próprio analista.

Bion alerta para a importância do envolvimento mental do analista na sessão, ressaltando que a observação da própria experiência emocional é parte essencial do trabalho analítico. Em sua trajetória, ele combina influências de Poincaré, Freud e Melanie Klein, procurando compreender como a mente humana organiza experiências e pensamentos, mesmo na presença de complexidade e caos.

Em seus estudos, podemos identificar diferentes períodos na obra de Bion. No primeiro, voltado ao funcionamento grupal (Experiências em Grupos, 1961), o objeto psicanalítico emerge nas tensões do grupo de trabalho e nos pressupostos básicos, revelando a dinâmica entre indivíduo e grupo. No segundo período, Bion se dedica ao pensamento psicótico (Estudos Psicanalíticos Revisados, 1967), investigando os primórdios da capacidade de pensar e a relação entre bebê, mãe e analista, ampliando o foco da análise para a função do pensar, não apenas para o conteúdo do pensamento.

A partir da teoria do pensar, Bion propõe conceitos fundamentais como função alfa, elementos alfa e beta, e a relação entre continente e contido, conectando pensamento e emoção. Essa abordagem culmina em sua perspectiva epistemológica, centrada na experiência emocional e no aprendizado com a experiência, distinguindo transformações em conhecimento (K) e em ser (O).

No período ontológico, abordado em Transformações (1965), o objeto psicanalítico se apresenta como um processo em constante evolução — algo que “está se tornando”. O analista é chamado a decidir qual dimensão da mente explorar: o simbólico, acessível pelo pensamento, ou o ser, acessível por uma experiência direta e sensível da realidade psíquica.

A obra de Bion demonstra que o objeto psicanalítico não é estático ou linear; ele é multifacetado, emergindo da interação entre analista e analisando. A atenção à experiência emocional do analista e à percepção sensível do momento clínico torna-se central para compreender transformações psíquicas únicas, muitas vezes inacessíveis ao conhecimento formal.

O registro clínico ilustra como essas transformações se manifestam: pequenas mudanças de atenção, sensibilidade e presença do analista podem permitir que aspectos antes inalcançáveis da experiência psíquica emergam, criando momentos de conexão e entendimento profundo entre analista e paciente.

Em resumo, para Bion, o objeto psicanalítico é complexo, vivo e em constante transformação. Ele surge na experiência compartilhada entre analista e analisando, exigindo atenção à mente, à emoção e à realidade psíquica em sua dimensão mais sutil e profunda.

Referências

  • Bion, W. R. (1961). Experience in Groups. Tavistock.

  • Bion, W. R. (1962a). Attacks on Linking. In Second Thoughts. Karnac.

  • Bion, W. R. (1962b). Learning from Experience. Heinemann.

  • Bion, W. R. (1962c). Uma teoria sobre o pensar. In Second Thoughts. Karnac.

  • Bion, W. R. (1963). Elementos de Psicanálise. Zahar.

  • Bion, W. R. (1965). Transformations. Heinemann.

 
 
 

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